Inverno Bravo

em tempo de colheita!...

Este é o meu quinto Inverno de apicultor e seguramente o mais bravo de todos!

-Um inverno muito frio e húmido!

Prontinho e disponivel para a colheita, cheio de flor de eucalipto por todos os lados mas com dias impossíveis de pôr o nariz de fora; ora porque chove, faz frio ou as duas coisas...

Hoje substituí o almoço por uma visita a Cabedelo para matar saúdades de Domingo... É uma desilusão ver exteriormente o retrocesso de algumas colmeias... Não consigo ainda avaliar os estragos que este Inverno vai provocar, nem tenho feito o acompanhamento mínimo de avaliação... mas os prognósticos são os piores!...

O pai anda mergulhado numa tristeza imensa... e, leva-me uma vez mais a pensar nos efeitos anti-depressivos desta ocupação! Penso mesmo que, ao contrário do desejado, tem um efeito depressivo, para as ocorrências de manifesto insucesso.

Acariciar-lhe o pêlo

e deixar-se adormecer!...

Não consigo encontrar outra descrição mais próxima!...

Para descrever aquele quadro ternurento!...

Hoje à tarde quando me aproximava do apiário de Cabedelo, por entre as árvores via ao longe as manchas lineares das colmeias alinhadas e entre elas como que um enorme espelho reflectia o sol!... Era um carro!...

Chegado junto, confirmei: era o carro do pai estacionado no meio do apiário encostadinho às colmeias para ele poder ver as meninas, sem saír do carro, apanhando aquele solinho todo, e logo ali tirar uma soneca à medida que as acariciava!...

Sol Traiçoeiro e o frio...

Provocam grandes estragos...

O frio destas últimas semanas tem provocado os estragos habituais... pelo exterior podemos ver larvas mortas por arrefecimento da criação e uma diminuição generalizada da população... As poucas alças que distribuí há pouco mais duma semana, não podiam ter ocorrido em pior altura... enfim, foi o risco calculado, por isso foram tão poucas...

Hoje pelo fim da manhã e início da tarde o sol estava magnífico, transmitindo-nos aquela raiva e vontade de vingança dos maus dias e noites geladas que têm passado!...

As abelhas num movimento de raiva, enchiam o ambiente dum zombido magnífico, carreando essencialmente polén mas em regra em pequenas cestas devido ao frio. Não se podia perder aquele sol!...

Mas muitas das abelhas paravam de cansaço nas árvores ou no chão, a poucos metros da colmeia, percebi que muitas não íam chegar ao destino; mesmo junto à colmeia, por baixo ou á frente da tábua de voo, eram aos montes agarrando-se entre elas e entre os cadáveres dos últimos dias, como que se aquecendo para ganharem forças para o derradeiro voo... mas em vão, porque o chão ensombreado estava ainda congelado, não tendo o sol radiante a força suficiente para as aquecer e a sua imobilização definitiva era uma questão de minutos...

Outras, juntavam-se nas paredes das colmeias, na tampa ou nas trazeiras, agrupadas e traídas pelo sol de Inverno.

O belo e

o monstro...

O ano passado, tem uns meses, com o amigo Felicidade visitamos uma empresa internacionalmente divulgada, com vista à troca de experiências e eventual aquisição de produtos...

Fizemos umas centenas de quilómetros!... Na esperança de encontrar o belo! O belo em apicultura claro está!...

Depois de chegados, as peripécias carregadas de ironia sucederam-se...

Era a desgovernância e o desleixo...

O nosso romantismo fora abalado pela realidade monstroosa de quem provavelmente já não tem tempo nem dedicação pr'a coisa e, digamos que está noutro ramo de negócio!...

- O das sucatas!

(sem ofensa para os sucateiros que agora até têm um nome pomposo e com direito a licença).

A minha diminuida dedicação pela falta de tempo a este e outros projectos pessoais assustam e lembram-me o monstro.

Agua na Eira e...

sol no nabal!...

O inverno continua húmido com algumas abertas, agora de temperaturas amenas... permitindo algum trabalho e colheita, como pude confirmar hoje numa visita rápida, quando pela tarde o sol se decidiu mostrar.

Mas este tempo que globalmente não é mau... tem consequências que gostaria de saber quantificar...

Quantas abelhas ficarão pelo caminho entre cada chuvada?!... Nas proximidades dos apiários eu vejo-as por todo o lado, cansadas encharcadas... serão milhares...

O ambiente húmido no exterior, aqui na região, atinge frequentemente valores superiores a 90% levando à condensação de grandes quantidades de água no interior da colmeia... ora esta até que ponto interfere no desenvolvimento da colónia?!... E como reduzir drasticamente a água acumulada?!... A teoria dirá: aumentar a ventilação e... um outro conjunto de factores onde não podemos intervir... direi então que nos resta aumentar as condições de drenagem e não deixar que mais água entre o que vai acontecendo com algum do meu material em muito más condições!...

Nesta altura de colheita e necessária expansão da colmeia o aumento do volume deve ser cuidado de forma a não aumentar grandes áreas de condensação que conduzirão à deterioração do material e aumento das tarefas de limpeza com os consequentes atrasos no desenvolvimento.

Humidades... foi o que faltou estes dias às minhas washingtónias... deixando-as cedentas e moribundas... nem consigo nada escrever...

E sobre humidades no interior das colmeias fica tudo por dizer...